08 agosto, 2011

Para não esquecer de voltar a Portugal e talvez por lá ficar!


Minha estada em Portugal foi um bálsamo para a alma e um reencontro com minhas raízes portuguesas.  Andei pelas ruas de Lisboa, Cascais, Estoril, Óbidos, Sintra, Peniche, Caldas  da Rainha e  Alcobaça como se estivesse vivendo um conto de fadas. Tudo encanta, emociona e remete a um  passado longínquo onde viveram meus antepassados. A saudade dói e ao  mesmo tempo faz bem. É um sentimento tão doce e amargo que as lágrimas se misturam com uma alegria nostálgica. Desejei tanto saber em que casas moraram, em quais  ruas passaram, em que igrejas casaram, rezaram e até  choraram meus parentes das famílias  Gomes, Costa, Pinto, Oliveira, Dutra, Siqueira, Menezes, Silveira ...   


De que portos partiram  e por que partiram? Durante essas reminiscências Fernando Pessoa caminhava ao meu lado e Saramago também, todos nós acompanhados  por  Vasco da Gama, pelo  Infante D. Henrique, por  D. Pedro e Inês e tantos outros portugueses navegadores, poetas, romancistas, fadistas, professores, estudantes,  pintores, artistas, todos  sonhadores ...  Eles  andavam ao meu lado, como se entendessem o que eu sentia, como se a minha saudade fosse do tamanho da saudade deles, da Lisboa antiga, de Coimbra, da viagem da família real para o Brasil, das tropas de Napoleão ameaçando a soberania nacional, do terremoto...


O Tejo exerceu sobre mim uma atração quase  fatal, fiz um cruzeiro  belíssimo, sentei  nas escadarias onde desembarcavam as rainhas, na frente da Praça do Comércio, olhei a lua e chorei de saudades nem sei de quem, mas chorei olhando para os navios que passavam como se estivesse me despedindo de alguém que muito amei. Lamento não ter tido tempo de seguir a sugestão do meu amigo Itamar para que  fossemos ao restaurante “Atira-te ao rio", que tem uma vista esplendorosa de Lisboa, mas com certeza em breve voltarei para ir tomar uma imperial com sardinhas na brasa!


Tomei café várias vezes no Café Restaurante Martinho da Arcada onde conversei com Fernando Pessoa, sentada na cadeira ao lado da mesa  que ele bebia e escrevia, li trechos do Livro do Desassossego que está ali sobre a mesa com as folhas já amassadas de tanto ser manuseadas pelos turistas que passam ali para recordar o  gênio das letras de Portugal tão amado pelos brasileiros que parece ser daqui também. Ah, não posso esquecer que estive também muitas vezes no Café à Brasileira, o lugar mais cosmopolita de Lisboa, no Chiado, onde turistas do mundo todo sentam ao lado da estátua de Fernando Pessoa e que fica bem perto do lugar onde ele nasceu na frente do Teatro São Carlos onde ouvimos a mágica sinfonia  da Orquestra  Nacional de Lisboa, em uma das noites regidas por uma maestrina.


Nessas andanças, encontrei o elétrico 28 que  me conduziu  a caminhos encantados, à ruas estreitas e sinuosas, passando por igrejas, pelas colinas de Lisboa,  onde com certeza passaram  muitos dos meus antepassados. Eu não queria voltar, precisava ficar em Lisboa ou Cascais, desejava pesquisar na Torre do Tombo, ir mais vezes ao Chiado, nas livrarias, visitar mais museus, ouvir mais fados na Alfama, no Bairro Alto, olhar o Tejo do alto das colinas de Lisboa, ver  os telhados das casas, observar o rosto das pessoas idosas que caminham pela cidade como se fossem jovens, carregadas de pacotes, de sonhos  e recordações.


Levei meu neto Henrique na escolinha Pirralhos do Marquês e ele me levou ao  Oceanário, ao Museu dos Coches, à Torre de Belém, aos Mosteiros de Alcobaça e dos Jerônimos e tantos outros lugares ... Em Óbidos ele ganhou uma espada e dizia sou cavaleiro, em Alcobaça surpreendeu a todos dizendo: Essa é a casa de São Joaquim (para quem eu acabara de rezar em silêncio no mosteiro e pedir proteção à família  sem comentar com ninguém) e eu quero comprar uma  igual  para trazer toda a minha família para cá  e meus cachorros também, vai ter ovelhas nos campos (essa criança acessa um saber inconsciente que nos deixa perplexos!).


 Fui com a minha filha Denise conhecer nosso escritório no Saldanha, onde tem a Constituição Portuguesa comentada pelo professor Canotilho e onde um sonho antigo está sendo concretizado. Depois fomos comemorar na Pastelaria Versailles  onde  tomamos  chá  com os melhores doces de Lisboa,  lugar belíssimo, acolhedor, antigo  e romântico....Penso que a Denise, meu genro Rodrigo e meu neto Henrique que adoram Portugal e consideram Lisboa a cidade mais linda do mundo vão se mudar para lá definitivamente, eles não conseguem voltar, logo, vamos  ficar  lá  e cá (como dizem os portugueses) já que finalmente tem vôo direto de Porto Alegre para Lisboa.


Fui  também na Casa dos Bicos onde está a Fundação Saramago e sentei ao lado da oliveira trazida da terra natal de Saramago e onde foram depositadas suas cinzas, o Henrique bateu uma linda foto na qual eu e o Milton deixávamos transparecer a mágica desse momento  (meu neto com três anos e meio já é um excelente fotógrafo!). Eu sempre digo que hei de ter a coragem e a determinação de Saramago para sair do Brasil e  ir para uma ilha escrever (Madeira ou Açores) e quanto às  cinzas nem sei para onde gostaria que fossem...porque para mim o imortal é o espírito, e este tem muitas moradas.


Em  Sintra visitei o Castelo dos Mouros  e  o Palácio da Pena que conta a história dos últimos reis e rainhas  de Portugal, nestes dois lugares viajei no tempo centenas de anos relembrando o que para mim  parecia real porque tive a impressão de já ter vivido ali antes, aliás essa sensação me acompanhou sempre, em todos os lugares, mas em Cascais foi mais forte, por isso, quero muito comprar ou arrendar uma casa lá no próximo verão.


As ruas de Lisboa, as calçadas, os jardins, a Avenida Liberdade onde está  localizado o hotel onde fiquei  me pareciam tão familiares  que me sentia moradora de Lisboa há muitos e muitos anos...
Em Cascais eu decidi um dia voltar para  ficar, se pudesse teria comprado uma casa lá, de frente para o mar, onde passaria o resto da minha vida escrevendo, pesquisando, lendo os versos de Camões e com ele conversando!


Para finalizar lembro o poeta maior:  “ Ó mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, quantos filhos em vão rezaram!Quantas noivas ficaram por casar, para que fosses nosso, ó mar!”





                                      Wanda Marisa Gomes Siqueira , julho 2011. 

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